terça-feira, 18 de agosto de 2009

Capitulo segundo
"Não percebi quando meus pensamentos mudaram de tristes lembranças para um sonho maravilhoso..."
Toquei o interfone.
- Boa noite, quem deseja?
- Boa noite, sou Michelle.
- Gostaria de ir aonde?
- Ao décimo andar casa de Susan Hansen.
- Ah sim, Pode subir.
O portão largo e preto abriu e eu entrei, corri até a porta de vidro que separava o pátio do prédio, com o Hall. Não percebi quando meu pai foi embora, apenas olhei para trás e não vi mais seu carro. Chamei o elevador enquanto pensava em minha mãe e em Philippe. Tentei o tirar de meus pensamentos, mas não tive muito sucesso. O elevador chegou e sua porta abriu automaticamente dando-me passagem, passei levemente encostando meu dedo indicador por cima do numero dez no elevador e sua porta fechou.
Escolhi um canto do elevador e me encolhi lá – tenho pânico de elevador desde pequena, não gosto de andar sozinha. A porta novamente se abriu e eu saí rápido do quadrado assustador. Toquei a campainha e não demorou muito para eu escutar um “entra”, entrei trancando a porta e logo quando me virei senti algo me abraçar molhando meu ombro de lagrimas.
- Mich! Você deve estar péssima – disse Susan chorando.
- Titia, e agora o que farei sem ela? – Só nesse momento percebi que Philippe saíra por completo de minha mente.
- Você sabe que sempre estarei aqui.
- Sim, claro, mas não é a mesma coisa... você sabe.
Andamos até o quarto de hóspedes que pude perceber que mudara dês da ultima vez que vim, suas paredes eram cru e agora estavam brancas – da cor que eu gosto – com um fino e delicado papel de parede no centro em tons de preto. A cama era um pouco maior do que o tamanho normal e agora está encostada na parede ao lado esquerdo da porta, com uma colcha preta e grossa que combinava com as almofadas destacadas em branco. Pulei na cama assim que tive chance.
- Tia, você podia me deixar a sós um pouco?
- Claro querida. – Ela seguiu até a porta com um andar desanimado e saiu fechando-a com cuidado.
Levantei-me lentamente e andei até a porta, diminui a luz até o quarto ficar quase escuro e voltei para cama, desta vez sentei-me. Peguei minha mochila que estava em cima da cabeceira marrom escura, a abri e peguei um pijama que Elizabeth – minha mãe – costumava usar, fui até o banheiro – peguei minha nécessaire e a coloquei em cima da pia. Entrei no chuveiro deixando que a água quente caísse em meus ombros tensos até relaxados, isso demorou um pouco. Vesti-me devagar tomando cuidado para que nenhuma lágrima caísse no pijama de mamãe. Voltei para o quarto escuro, tropeçando algumas vezes até encontrara a cama; abri e me coloquei rapidamente de baixo de suas cobertas.
Estava sem sono então resolvi ligar meu ipod – sempre durmo com música. A primeira música mal começou e já mudei; resolvi então selecionar minhas preferidas – que são as mais lentas – para eu possa dormir sem nenhum susto. Uma música novamente começou, então fiquei lá deitada imóvel apenas esperando que o sono pousasse sobre mim relaxando-me por completo até adormecer; não aconteceu.
Já está na quinta canção e nada de sono, decidir me apegar aos pensamentos e deixá-los fluir; não demorou muito e a musica de minha mãe novamente começava, e então me coloquei sentada em um só movimento. “Ai, como a quero novamente!” gritei em meus pensamentos, ”por favor, faça-a voltar, por favor!” e o choro começou novamente, não me importei agora de molhar a roupa de mamãe ou a colcha da tia Susan, eu quero apenas chorar no silêncio escuro deste quarto sozinha, sem ninguém. De repente ouvi uma voz em minha cabeça “filha, sempre estarei com você! Sou imortal não se lembra? ”e a lembrança de seu quadragésimo segundo aniversário voltou em minha mente, refazendo as lágrimas mais tristes...
- Oi mamãe – era eu quem a acordei esse dia – Bom dia... está com fome?
- Hmmm quê? – Elizabeth tentava abrir os olhos, mas não teve muito sucesso.
- Mãe acorde! – Reclamei – Hoje é seu aniversário e você precisa aproveitar o melhor que puder esse dia.
- Ah! É hoje? – Ela sorriu dizendo isso. – Nossa que ótima filha que eu tenho hein – agora ela brincava com seu sarcasmo.
- Não gostou? – Não entendi.
E ela começou a rir me deixando com mais dúvida ainda.
- Claro que gostei né, estava brincando.
- Só porque você vai fica mais velha, com mais rugas, e...
- Rá-rá – ela me interrompeu fazendo-me cócegas em minha barriga – Só mais velha viu. Rugas são para os fracos. – Mamãe voltou a seu lindo e adocicado riso enquanto dizia isso.
- Ih mãe... acho que você está fraca... muito fraca! – Sorri.
- Bobinha – agora ela estava sentada.
- Pai! – Gritei. – Ela já acordo.
Não deu muito tempo entraram duas pessoas pela porta do quarto com um bolo quase em chamas por causa das velas.
- Parabéns pra você nesta data querida... – Todos cantavam.
- Sem essa de cantar parabéns gente – disse mamãe aos risos.
- Tudo bem, tudo bem... – Respondeu-lhe Nicoli.
- Amor – meu pai praticamente corria até ela para lhe abraçar – Como você é linda sabe que eu a amo muito, parabéns tudo de bom para você! Você merece tudo, tudo mesmo!
- Obrigada, eu também o amo – eles eram tão apaixonados.
- Sem baboseirinhas de namoradinhos adolescentes né mãe, pai.
Ele riu ao responder:
- Desculpe general!
- Ah... vamos para o bolo... parece delicioso – falou Nicoli ao esfregar as mãos sinalizando “atacar!”. – Vamos mãe, corte-o!
- Claro... claro senhora faminta. Onde está a faca?
- Aqui está – Minha irmã tirou-a do bolso fingindo mágica – Tan-tan-tan-taan...
- Bom vamos lá. Fazer um pedido...
...Não percebi quando meus pensamentos mudaram de tristes lembranças para um sonho maravilhoso, só me lembro apenas de uma hora estar deitada em minha nova cama de três dias e na outra estar novamente em pé do lado de minha amada mãe...
- Pronto.
- Fez o pedido? Nem nos falou qual foi! – Disse eu abismada.
- Se eu lhes dizer não vai acontecer – mamãe sorriu.
- Bom primeiro pedaço para quem?
- Eu... eu, me escolhe – Nicoli pulava brincando.
- Tudo bem, primeiro pedaço para a gulosa.
De repente percebi que o sonho mudara, não estava mais em minha casa comemorando o aniversário de mamãe. Estava perdida em um cenário preto, correndo para todos os lados, mas era o mesmo que ficar parada. Ouvi uma voz grave e ameaçadora falar: “você nunca mais a verá!” corri mais rápido procurando o dono daquela voz assustadora, não achei; de repente no escuro uma tela pequena e quadrada acendeu, com um barulho terrivelmente fino e alto. Tampei os ouvidos com as mãos. Não adiantou muito. O som fino aos poucos foi diminuindo até não se ouvir mais nada – nem meus pensamentos – apenas via no silencio da escuridão uma pequena tela distante branca com uns pontinhos pretos, um chiado baixo começou.
Novamente a voz fala comigo “nunca mais verá seu sorriso...” a voz parou me deixando com duvida se iria ou não continuar a frase inacabada. Tentei ignorar minha dúvida e a voz ameaçadora, corri até a tela – que agora estava maior - agora estava com algumas faixas colorida como se um filme estivesse para se iniciar; mas ela ficou paralisada e os chiados continuavam. Não entendia o que estava acontecendo ou prestes a acontecer, sabia que estava sonhando, mas estava presa nesse jogo confuso; “ah!” comecei a gritar, estava me sentindo completamente atordoada, tonta e confusa. Queria sair da li, mas não sabia como.
-Ahh! – Acordei gritando.
Estava me sentindo péssima igual ao meu sonho. Levantei-me rápido e acendi a luz até o quarto ficar completamente iluminado pela luz amarelada da lâmpada; abri a porta com cautela para não fazer barulho e andei pelo longo corredor escuro até a sala, e fui para a cozinha; lá peguei um copo com água gelada. Sentei em um banquinho que havia na mesa e dei um gole curto e demorado.
- Ai que droga! – Sussurrei mal-humorada.
Baixei a cabeça apoiando-a em meus braços e voltei-me a chorar, mas agora a tristeza estava vindo acompanhada de raiva
- Que droga esse sonho, não vou mais conseguir dormir!
Decidi então pegar meu livro preferido “Crepúsculo” e continuar lendo até o sono vir ou até eu acabar novamente a coleção. Peguei o abri na página marcada, capítulo dezoito e comecei a ler.
Parei de ler quando percebi que o sol já nascera. Que horas são? Corri para meu quarto, peguei meu celular. Quatro horas, nossa! Eu já tivera lido até capítulo vinte e dois “esconde-esconde”. Resolvi que era mais que hora para dormir novamente, e aproveitei que o sonho já estava quase que esquecido por completo. Dormi.
- Acorde meu anjo.
Uma voz simpática me acordava.
- Mich já são duas e meia, vai almoçar?
- Hã? Que? – Ouvi uma risadinha leve.
- Mich acorde menina sabe que horas são?
- Tenho uma leve impressão que são duas e meia – abri um sorriso.
- Exatamente, levante-se e vá até a cozinha, seu almoço está quase pronto.
- Tá, tudo bem tia – respondi sem a mínima vontade de levantar.
Quando aporta se fechou, abri por completo meus olhos e dei de frente com uma luz fraca, virei o rosto para o travesseiro e me lembrei vagamente do acontecimento de ontem. Coloquei-me de pé em um único movimento rápido. “Cadê mamãe?” a chamei em meus pensamentos. Corri até a cozinha – meus olhos avermelhados.
- O que aconteceu Mich?
- Tia, cadê mamãe?
- Como assim? – Senti o peso de seu rosto terrivelmente pesado em minha coluna. Cai sentada no chão da cozinha.
- Tia! - gritei - Cadê mamãe? – não conseguia encarar o real fato.
- Mich acalme-se – pude ouvir a preocupação que havia em sua voz – Você está me assustando.
- Titia, por favor, me diga onde ela está! – Agora eu quase gritava.
- Mich sua mãe faleceu ontem, não está lembrada?
- Não, não, ela está no hospital com Nicoli, - eu estava completamente histérica – Porque vocês não me deixam vê-la?
- Mich, você está se sentindo bem?
- Não titia, na verdade estou me sentindo ótima – minha voz falhou ao forçar meu sarcasmo.
Ela não respondeu e depois de um curto tempo ouvi o som das teclas do telefone.
- Alô? Edward?
- Não, na verdade não estamos nada bem – ouve uma pequena pausa.
- Ela não se lembra ou se recusa a acreditar que Eliza faleceu.
- Nada disso – eu respondia por Edward – Eu me lembro de tudo, sei que mamãe está no hospital com Nicoli! Porque vocês não me deixam falar com ela!
- Está ouvindo Ed? – outra pequena pausa – Mich seu pai quer falar com você!
- Pai – eu chorava aos berros no telefone- Cadê mamãe?
- Filha – sua voz era preocupada – Sua mãe não está mais aqui.
- Como assim? A onde ela está?
- Filha sua mãe faleceu ontem, num acidente de carro. Como não se lembra disso?
- Claro que me lembro. E me lembro muito bem que ontem nos dois fomos vê-la numa – comecei a me lembrar e as palavras saíram cada vez mais devagar e com mais choro –, sala cheia de gavetas fechadas, e ela estava numa maca coberta por um lençol branco e fin... – não tive coragem de terminar.
Soltei o telefone, e cai junto com ele no chão, o choro parou naquele momento. Dois segundos irritantemente lentos se passaram e então recomecei os soluços, e aos poucos voltei a chorar desesperadamente, uma tontura muito grande tomou conta de meu consciente, - pude sentir que ia desmaiar, mas não tive forças suficientes para me mexer – aos poucos minha visão foi ficando escura até ficar completamente negra, nada mais vi, fechei meus olhos com força e cai sobre o chão gelado da cozinha.
- Hã? Onde estou?
- Oi filha – meu pai quem falava comigo.
- Porque eu estou no hospital?
- Não se lembra não é mesmo?
- Acho que não... – estava confusa.
- Bom você desmaiou na casa da tia Susan e a trouxemos para cá.
- E qual seria o motivo de meu desmaio?
- E isso que eu quero saber... – ele me olhou com duvida, mas era eu quem estava confusa.
- Pai... você está bem?
- Vou te explicar, você não se lembra... Bem – ele parou – você teve um ataque de choque de repente, e começou a ficar muito irritada...
- E com o que?
- Com a morte de sua mãe.
Tive que me controlar para não entrar novamente em choque quando ele terminou a frase, fiquei completamente paralisada, aos poucos fui me lembrando dos acontecimentos passados da casa de minha adorada tia e no dia anterior no hospital, levantei-me rápido colocando-me sentada, olhei um instante para porta e depois vir-me-ei para meu pai abraçando-o. Chorei.
- Filha – ele estava mais calmo – não tem mais nada para fazer.
- Mas pai– agora olhava para cima – Não sei o que dizer, é inacreditável, como vou viver agora... sem ela? – repeti a pergunta antes feita para Susan.
- Bom você tem a mim, a sua irmã, a seus amigos...
- Não é a mesma coisa – o interrompi, pisquei lentamente. – Bom, vou ter que aprender a conviver com isto!
Levantei-me e andei até a porta cambaleando um pouco olhei para os lados e vi um menino loiro – de repente pude sentir um pulo em meu peito, meu coração começou a acelerar, cada vez mais rápido, e pude perceber que Elizabeth saia por completo de minha mente – sair de uma das salas. Quando percebi que virava para meu lado corri minha cabeça para dentro da sala de novo, joguei minha mão para o pescoço e me lembrei que minha corrente estava com ele.
- O que foi isso? – perguntou meu pai assustado.
- Não sei – menti.
Com certeza não enganei, mas percebi pelo seu rosto que ele deixaria passar essa.
- Pai, posso pegar uma água? Estou com sede...
- Sim, pode – respondeu ele desconfiado. – Está aqui o dinheiro.
Andei até a porta bem calma – só para enganar – e depois sai correndo para o lado em que Philippe ia. Quando avistei um menino de cabelos loiros de comprimento um pouco grande – para um menino – parei e comecei a andar normalmente – bom quase normalmente. Ele olhou para traz e logo reconheci seus olhos negros hipnotizantes.
- Oi Michelle - tremi ao ouvir mais uma vez sua voz.
- Oi. – Tentei parecer indiferente. Não deu certo.
- Vejo que está com os tênis amarrados hoje! – Disse ele rindo. Corei.
- Agora que te conheci não preciso mais de desculpas para te conhecer! – agora estávamos parados um de frente para o outro – Não... estou brincando. – bom pelo menos o fiz rir, ponto para mim!
- Não me importaria se caísse novamente em mim – ele riu ao dizer isso. – Então, vai pegar água novamente? – estávamos novamente andando.
- Sim, estava indo pegar água – menti.
- Ah - ele responde desanimado -, então acho que te vejo depois?
- Não entendi, por quê?
- É que estou indo pegar um exame e... a água é por ali – ele me apontou o outro lado do corredor que agora se dividia em dois.
- Acho que meu pai não vai se importar se eu me atrasar um pouquinho – pude sentir a leveza de seu sorriso doce e feliz ao dizer isso.
Andamos um pouco em silencio, até que nós viramos, ao mesmo tempo, para nos olhar, novamente pude sentir o calo que aumentava conforme o tempo que passamos juntos se fitando, tentei quebrá-lo:
- Pude notar que está usando minha corrente – não adiantou.
- Claro que estou! – ele sorriu – Ah! E falando nisso... – ele não continuou. Apenas colou sua mão direita no bolso de sua calça Dona Karan DK, tirou algo pequeno de lá. Ele parou, e de alguma maneira fez com que meus olhos se hipnotizassem, grudando minha visão em seus olhos negros brilhantes. Percebi vagamente que sua mão direita se mover até o bolso de meu casaco, mas foi só o que pude perceber, meus olhos estavam muito preso aos seus para reparar em mais detalhes. Ele se aproximou lentamente de meu rosto - acho que chegou a ficar menos de cinco centímetros do meu – ele não continuou.
- Então doutor Wilbert – saiu uma mulher morena com um medico de uma das salas – Acha que o paciente está melhorando?
- Sim, e isso é bom. Vou ligar para a família deli para avisar.
Aaah, bem nessa hora esses dois tiveram de passa aqui né, bem agora! – resmunguei em pensamentos.
- Nossa – ele deu seu sorriso maravilhoso que eu adorava – Que susto hein? – ele piscou maliciosamente.
- É né – suspirei alto.
- Onde paramos?... Ah sim – ele voltou a se aproximar – Quero que você apenas descubra o que é – cochichou em minha orelha -, quando estiver completamente mal, espero que nunca descubra o que é, mas... – ele recuou alguns centímetros, e então novamente me vi perdidamente hipnotizada em seus olhos – como sempre temos altos e baixos na vida...
- Não posso ver mesmo se estiver bem? – choraminguei.
- Não... – ele parou piscando e continuou – Isso talvez a faça se sentir mal, ao lembrar.
Não respondi. Meu celular novamente tocou – fazendo com que infelizmente saísse do transe hipnótico de seus olhos -, mas como ele estava em vibrar, o ignorei jogando apenas minha mão no bolso para apartar alguma coisa para que o faça parar. Funcionou.
- E então – continuamos a andar – o que andou fazendo de ontem para hoje? – ele riu, provavelmente porque se passo muito tempo ente esses dias.
- Bem, nada de bom – o fitei – e você o que faz aqui no hospital?.
- Estou apenas ajudando minha mãe com minha irmãzinha que estava passando muito mal esses dias, mas descobrimos que não é nada de mais– ao dizer apontou uma sala, entramos. – Bom dia, por favor, o exame de Rachel Lauck - pediu ele muito educado.
- Um minuto – respondeu - lhe a moça
- Que bom que ela está bem
- Aqui está o exame.
- Obrigado.
- Bom, vamos? – sorriu
- Sim, claro – também sorri.
Andamos em silencio até um quarto antes do da irmã dele. Olhamo-nos brevemente enquanto eu abria um sorriso envergonhado.
- Bom obrigado pelo passeio, foi bom te ver novamente.
- Igualmente – continuei sorrindo.
- Beijos. Vejo-te amanha?
- Não, provavelmente não – desmoronei.
- Bom, então... – percebi que deixava a frase inacabada. Ele se aproximou devagar, e assim que ficou uns cinco centímetros de distancia de mim ele parou, ficamos nos olhando por um tempo incrivelmente longo e depois disse eu para quebrá-lo:
- Bom preciso ir. – continuei de onde ele tinha parado, lentamente fechei meus olhos e nossos lábios voltaram a se encontrar durante uns dois segundos.
Afastamos nossos lábios, abrimos nossos olhos e voltamos a nos fitar.
- Bom, então é melhor que vá, não quero lhe causar problemas – falou ele sorrindo falsamente. Fiquei feliz ao ver sua reação, acho que ele realmente gostou. Afastei-me devagar e me virei para andar. Esperei que me chamasse; não aconteceu.
- Nossa você foi rápida, tem certeza que conseguiu beber o tanto de água que precisava para se acalmar? – era meu pai quem perguntava forçando no sarcasmo ao me ver entrar.
- Sim, acho que sim pai, obrigada por perguntar – respondi ignorando seu sarcasmo.
Andei até o pequeno sofá do lado da cama de minha irmã e me deitei de olhos fechados, demorou alguns minutos para que eu voltasse ao meu estado normal. Ai meus Deus o que aquele menino fazia comigo! Aos poucos fui controlando meus batimentos cardíaco, e fui me acalmando. Abri meus olhos lentamente e com isso meu sorriso começou a desaparecer.
Um barulho alto começou a tocar me fazendo pular.
- Ai pai que susto – fiz uma careta. – Atende logo esse troço!
- Calma... calma! – Ele apertou um botão do celular e o barulho acabou. – Alô?
- A sim – falou meu pai desanimado – e então? – ouve uma longa pausa – Ok, tudo bem, obrigada. – Ele desligou o celular chorando um pouco e voltou a falar comigo – Mich?
- Sim? Quem era?
- Bom era o cara da autópsia.
- Ah! – desanimei mais ainda – Sim, o que ele queria?
- Ele disse que já acabaram.
- Ah, e você vai me perguntar se eu quero ir?
- Sim, para o velório... Vai?
- Bom, pai, sinceramente – falei choramingando – Velório é um lugar aonde vão fica um monte de gente chorando pela mamãe. Definitivamente... não é lugar para mim, não quero ficar mais mal do que estou. Tudo bem?
- Sim, sua decisão... E enterro amanha?
- Também não. Quero que minha última lembrança minha com ela seja feliz. E o velório... Bem não é um bom lugar para lembranças felizes!
- Tudo bem... – neste momento a porta do banheiro do quartinho se abriu saindo de lá minha irmã.
- Oi pai, oi maninha.
- Oi – respondemos ao mesmo tempo.
- E maninha, o que foi que aconteceu hein?
- Ai, desculpa – fiz carinha de “cachorro sem dono” – não foi culpa minha, é que não caiu a ficha... – não ousei terminar.
- Não, relaxa pequena – ela se deitou. – Mas então, você está melhor?
- Sim, sim, e... bom, o que importa agora é outra coisa...
- O que houve agora?
- Bem filha – meu pai respondeu por mim – o homem da autópsia ligou e disse que o corpo já pode ser levado para o velório.
- Ah! Sim, sei...
- Você vai quer ir para o Velório?
- Ai pai, eu quero, mas eu não sei se agüento... espere! – parou Nicoli – Mich, pegue aquela caneta ali, por favor?
- Sim – andei até o lugar apontado e peguei a caneta a entreguei.
Nicoli agora pegava um guardanapo e escrevia algo que não pude ver.
- Pai não leia! Quero que você coloque isto junto ao corpo de mamãe!
- E eu poço ler? – Perguntei.
- Não, desculpe.
- Tudo bem filha, não se preocupe não lerei. É... bom, tchau meninas eu vou indo, preciso acertar as coisas... Ah e por falar nisso, Nicoli você vai...
- Sem chance – ela ficou seria ao falar -, é muito pior.
- Claro, claro eu entendo. Bom, agora eu vou indo.
- Beijos pai! – Falamos juntas.
E assim que ele bateu a porta do quarto pude perceber que ela jogava seu olhar de “agora você vai me contar tudo” para cima de mim. Vir-me-ei para o outro lado, antes que ela completasse o olhar.
- E então... Vejo que está muito abatida com o acontecimento!
- Ai, Ni! – ignorei seu sarcasmo - Muito péssimo isso! – me fiz de sínica.
- Muito engraçadinha você! – Ela realmente estava falando sério. – Cadê sua correntinha? Nunca a vi tira-la!
- É quem... hmmm B-bem – gaguejei –, é que assim, sabe...
- DESIMBUCHA! – gritou ela.
- Tá, eu conheci um menino aqui no hospital e agente meio que se “xono” sabe?
- “Xono” – ela franziu o cenho – Por caso seria apaixonar?
- Ee-é. – gaguejei novamente jogando meu olhar para outro lugar do quarto.
- Ah - ela disse isso tentando parecer indiferente e depois começou a rir. – Aee pequena! Arrasando corações...
- Ah para! – mereço uma irmã como essa?
- Eai vai me apresenta o “gato”?
- Hmmm – pensei atirando meu casaco na cadeira e depois me lembrei do negocio que ele tinha colocado no meu bolso. – Niih! – falei meio alto.. – Sabe... ele me deu hoje uma coisa, mas ele falou que eu só podia olhar quando eu estivesse mal, não estou mal, será que eu vejo o que é?
- Larga de manha e vai vê – respondeu-me rindo.
Peguei meu casaco da cadeira e o apoiei no colo, procurei o bolso e coloquei a mão dentro, pela textura lisa a altura pequena e a largura fina, deduzi que era uma foto, tirei rapidamente. Não tive coragem de olhar então eu logo dei para Nicoli.
- Ai meu Deus! – Disse ela com uma altura exagerada na voz e se demorando em cada palavra para realçá-las na frase inacabada.
- O que é? – Falei um pouco desesperada. – O que é? – Repeti.
- Maninha... – ela parou respirou fundo e continuou – Ele é muito lindo... Loirinho de olhos pretos, sorriso certinho e o mais importante...
- Covinhas – eu ri enquanto adivinhava com certeza o final da frase.
- Eai maninha – ela piscou – onde ele está?
- Não tenho certeza – peguei a foto ainda sem ver a imagem.
- Vai descobrir menina! – gritou ela sentando quase na cama.
- Ta! Ta! Ok! – E andei até a porta.
Fui devagar até o quarto onde a irmã dele estava e parei – queria bater, mas a vergonha não deixou. E se ele por algum motivo não quisesse sair comigo? E se a mãe dele atendesse a porta? Parei e pensei, decidi esquecer a vergonha. Se a mãe dele que atender eu falo que errei o quarto e venho para o meu. Se ele não quiser dar um passeio pelo hospital comigo eu... eu... Ah sei lá. Vamos ver na hora o que dá! Levantei meu braço direito para bater na porta e antes que meu punho pudesse bater, ela se abriu, de lá uma mulher saiu sorrido, devia ter 40 anos, cabelos louros curto, sua pele era bem clara como a de Philippe e seus olhos eram de um azul claro quase tão bonito quanto os deles, á seu lado uma pequena menina – devia ter sete anos – também loura de cabelos curto – mais curtos que o da mãe – e franja um pouco comprida.
- Oi – disse a menina sorridente.

domingo, 2 de agosto de 2009

Capítulo primeiro
Não dissemos mais nada durante um longo tempo, apenas nos olhamos vagamente viajando em sonhos que nunca mais seriam realizados




Entrei em casa apressada chorando aos berros, corri até meu quarto – que é, ou talvez era, de Nicoli, minha irmã mais velha. Bati a porta com força que se fechou fazendo num estrondo. Logo em seguida escutei uma batida leve e assustada, quando olhei, a porta já estava novamente aberta, e resmunguei chorando:


- Pai, o que aconteceu, quer dizer... como aconteceu? Não pude nem me despedir da mamãe!
- Mich – ele me interrompia – Calma – sem dúvida não havia calma em sua voz.
- Edward – agora minha voz estava mais alta, ele me olhou feio quando pronunciei seu nome, provavelmente agora não era boa hora para chamá-lo pelo nome -, pai não vou me acalmar, eu escutei você no telefone, houve um acidente e a Ni está no hospital, já a mamãe... – Não tive coragem de continuar.
- Mich olhe... – ele pegou meu queixo baixo e o levantou -, olhe nos meus olhos - fiz o que ele pediu, mas só piorou a dor, o que vi em seus olhos era pior do que a morte de uma pessoa amada. Era como se ele estivesse para morrer ali, na minha frente, olhando para mim – Foi exatamente isso, um acidente, a batida foi forte e ela não resistiu – nossos olhos derramaram lagrimas ao mesmo tempo – Estou indo para o hospital agora.
- Posso ir com você?
- Sim, vamos.


O único som que interrompeu o silêncio foi o motor do carro e alguns resmungos de choro. O tempo não passava, enquanto eu de olhos fechados olhava para frente, apoiada na janela do carro, era como se naquele momento eu estivesse apenas sonhando um pesadelo, e pensava acordada ainda comigo mesma, “ao abrir os olhos a verei sorrir novamente.”
Não aconteceu.
- Mich já chegamos.
- Hã? Ah! Sim, tudo bem.
Sem a mínima vontade, sai do carro e fechei a porta. Entramos no hospital e quem nos recebeu foi um médico jovem, de cabelos louros escuros e olhos castanhos, que combinavam com seu tênis cor de terra.
- Sr. Edward Weber?
- Sim.
- Deixe me apresentar, sou Dr. Albert Volkmer.
- Ah! Sim, você que me ligou né?
- Sim, eu mesmo, bom, posso levá-los para o quarto de Nicoli?
- Sim, sim, sim – disse ofegante –, quero vê-la, como ela está?
- Está quase bem – disse ele nos apontando o caminho – Daqui a alguns dias ela poderá voltar para casa.
- Que bom... nada aconteceu com ela... – pensei alto – Nada de grave.
Ao entrar na sala percebi que estava vazia. Uma cadeira, um sofá que devia ter meu tamanho de comprimento, uma mesa de rodinhas um pouco mais grossa que a cama aonde o paciente – no caso, minha irmã – iria se deitar.
- Por que a sala está vazia? Quer dizer... por que minha irmã não está aqui?
- Ela está numa cirurgia, uma pequena cirurgia.
- Hã? Como assim – meu pai ficou vermelho com a resposta do médico.
- Calma senhor. Nada de grave aconteceu com ela. Apenas bateu a cabeça com muita força. E alguns vidros entraram em sua perna direita. Quando a tiramos do carro estava desmaiada. Mas nada é muito grave devo acrescentar.
- Quando poderemos vê-la?
- Assim que a cirurgia acabar.
- E isso significa...
- Não tenho muita certeza, talvez uma hora – o médico me interrompeu.
Um silêncio quase perturbador encontrou a sala durante uns cinco segundos que pareceram cinco horas, meu pai foi o primeiro a quebrá-lo falando muito baixo – provavelmente não queria que eu escutasse – mas com um esforço quase notável consegui ouvir:
- Hmmm... posso falar um minuto as sós com você?
- Claro – ele disse seguindo-o para fora do quarto vazio.
Liguei a televisão para disfarçar, e assim que a porta se fechou corri para escutar atrás dela. Com mais esforço, - por causa da televisão - consegui ouvir alguma coisa.
-Bom – meu pai começou a falar –, queria saber como foi exatamente o acidente, foi você quem as ajudou, não?
- Sim, fui eu – respondeu o médio. – Bom, eu não entendi direito, pelo que me pareceu ela perdeu o controle do carro. E eu estava a uns dois metros, mais ou menos, de distância, então pude ver com clareza o acontecido, mas mesmo assim não entendi – o médico realmente parecia confuso – Estava com o som ligado prestando atenção em uma Lamborghini laranja e preta que estava do lado do carro de sua mulher, foi então – ele suspirou lentamente – Que eu escutei um barulho alto, olhei para o lado procurando o autor do barulho.
Ele continuou:
- Foi quando vi que metade do lado esquerdo de um carro tinha entrado em um poste. E o trânsito parou no mesmo segundo. Aproveitei o trânsito lento para estacionar atrás de seu carro e ajudar as pessoas que estavam dentro...
- Então você viu Nicole e Elisabeth – meu pai interrompeu.
- Exatamente. Não conhecia, então tentei procurar por um documento ou celular enquanto ligava para o hospital, não demorou muito para encontrar uma bolsa jogada no chão do carro, atrás do banco do carona, abri imediatamente e liguei para o senhor e aqui estamos.
- Então, ela realmente faleceu... – Pelo tom da voz de Edward percebi que chorava, e o acompanhei saindo da sala e abraçando meu pai, antes mesmo de deixá-lo continuar.
- Pai, ela realmente mo... fa-aa? – Perguntei sem terminar, chorando baixinho.
- Sim, filha...
- Senhor quer que o leve para vê-la?
- Sim, por favor.
- Posso ir pai? – choraminguei
- Sim – respondeu ele me puxando para perto de seu peito – Nunca a proibiria de ver sua mãe.
- Vamos – disse o médico.
- Vamos – respondi, fingindo ser forte. Com certeza não enganei.
Entramos numa sala escura e muito gelada - quase me arrependi de ter querido ir -, havia muitas gavetas fechadas e duas macas com corpos cobertos com lençol branco. O medico louro andou até uma das macas, a maior, e nos chamou, meu pai foi primeiro me empurrando com delicadeza para trás.
- Venha – disse o médico.
Meu pai se aproximou com uma lentidão exagerada – parecia em choque, provavelmente não acreditava no que acontecia – ele parou na frente da maca e disse alguma coisa baixinho que não entendi, estava distante dele nesse momento. Ele se debruçou na maca onde minha mãe estava e lentamente sentou-se no chão. Percebi que chorava muito então corri para ajudá-lo, sentei-me ao seu lado deitei sua cabeça em meu ombro que agora tremia e falei baixinho “Pai, não fica assim – como se eu tivesse alguma moral para dizer isso. Estava quase pior que ele. – Agora não temos escolha, é tarde demais.” E ele chorou ainda mais, encharcando minha blusa preta pólo. E ele disse aos soluços:
- Filha você não sabe o que é perder alguém que ama...
- Pai eu também a amo – disse interrompendo. Agora estávamos sozinhos, só havia um homem, que não conhecia na porta da sala, esperando que nós saíssemos para trancá-la.
- Você não entende... Perder alguém que se ama e que é mãe de seus filhos, e o pior, morrer... – ao dizer isso eu acompanhei os soluços de choro dele – Tão cedo.
Não tive como responder, tenho apenas quatorze anos, e é obvio que não sei o que é perder alguém que se ama e que é também pai de meus filhos. Acho que nunca tive tanta pena de alguém na minha vida. Ver um pai jogado no chão frio de uma sala onde sua mãe está em uma maca morta. É horrível.
Saímos de lá desnorteados, fomos para o quarto de Nicoli, ela já estava acordada, e ao nos ver disse:
- Oi, gente – parecia meio grogue por causa da cirurgia.
- Oi, Ni! – Meu pai primeiramente disse com alegria.
- Oi, pai – respondeu ela com um meio sorriso. - Oi maninha.
- Oi, Ni, você já sabe o que aconteceu?
- Bom, eu lembro... – disse ela séria novamente – Quer dizer, eu me lembro de algumas partes...
- Algumas partes... quais ?
- Bom, eu me lembro da mamãe perder o controle do carro e dizer... “filha segura”, enquanto jogava sua mão direita em meu colo para me empurrar... falando nisso onde ela está?
- Pai – chamei baixinho.
- Fala, filha – ele continuava com os olhos vermelhos e inchados.
- Ela não sabe da mamãe?
- Não, ainda não. Por quê? Ela perguntou? – disse ele preocupado.
- Sim, ela quer falar com ela. O que digo?
- Deixe-me falar com ela a sós!
- Não posso estar junto?
- Sim, mas eu queria falar um momento sozinho... com ela.
- Ok, tudo bem.
Saí da sala andando meio rápido, e me sentei em uma cadeira cor de madeira clara e desconfortável, era baixa e o encosto estava meio quebrado na lateral esquerda. As paredes do corredor eram brancas e a cada três metros mais ou menos tinha uma porta, algumas maiores do que as outras. Percebi que não passava muito médico por este corredor e quando passavam entravam e saiam rapidamente, os poucos que entrava eram visitantes, com flores e presentinhos nas mãos. Decidi pegar meu Ipod e escutar algumas músicas enquanto esperava. O tempo parecia não passar, e cansei de ficar sentada naquela cadeira desconfortável.
Resolvi andar um pouco.
Fui pegar uma água – talvez seja melhor dois copos... Ni provavelmente vai precisar de um quando meu pai terminar. – Levantei-me rápido de mais, fiquei tonta, comecei a andar devagar, aumentando o passo conforme a tontura passava, enfim andava um pouco mais rápido que o normal. Baixei a cabeça para olhar meus tênis, que estava com o cadarço do pé esquerdo desamarrado.
- Ai – gritei ao cair no chão. Era tarde de mais para se arrepender de não ter parado antes para amarrá-lo.
- Opa – não reconheci a voz, decidir olhar para cima para descobrir quem era -, já vai? – Era um menino loiro de olhos pretos brilhantes quem falava, realmente não era para me arrepender de não ter amarrado meu tênis. Ele agora estendia seu braço um pouco mais comprido que o meu, sua palma pálida - como seu rosto e seus braços - estava esticada para mim, pude sentir as maças de meu rosto corar. Sorri timidamente pegando em sua mão confortavelmente quente.
- “Vergoínha” – cochichei comigo mesma. Acho que ele pode ouvir... logo quando terminei escutei uma risadinha leve e doce sair de sua boca. Agora eu estava de pé ao seu lado e pude perceber que usava uma calça jeans preta e uma blusa pólo da Lacoste listrada que combinava com a minha. Olhei novamente seu rosto, imaginei que tivesse minha idade, ele era apenas uma cabeça mais alto que eu, ou menos.
- Tudo bem, acontece... eu mesmo vivo caindo – e ele novamente deu seu sorriso acompanhado de um riso incomparavelmente leve e adocicado– Bom, meu nome é Philippe Lauck e o seu?
-Michelle Weber
- Hmmm... lindo nome. O que ia fazer antes de tropeçar? – ele riu novamente, me fazendo corar de novo.
- Pegar água para mim e... – ainda estava com um dos fones de ouvido em minha orelha, então pude escutar a musica que se seguia, e logo que a reconheci, meus olhos se encheram de lagrimas, não pude continuar.
- O que houve? – Perguntou Philippe assustado. – Desculpe, foi algo que a disse? – Ele continuou com sua face paralisada, mas seus braços pálidos correram para me abraçar. Ele parou.
- Não, nada que você disse, é que... – parei, suspirei lentamente e continuei. – Bom – recomecei – vamos nos sentar que eu te explico.
- Só se você me deixar pagar a água. – Ele tentava descontrair.
- Tudo bem – respondi com um quase sorriso no rosto.
Ele comprou a água enquanto eu mandava uma mensagem para meu pai explicando onde estava. Sentamo-nos na frente de um murinho que havia fora do hospital, nos apoiamos nele devagar. Ao sentar apoiei minha cabeça entre meus joelhos – pude sentir seu olhar de duvida em mim -, levantei minha cabeça dei um gole curto da água o olhei e falei:
- Desculpe, não devia ter feito aquilo, é que – me virei novamente para ver o horizonte de prédios em nossa volta - Na hora não pensei... Estava com o Ipod ligado e começou uma musica que lembrava minha mãe, e ela acabou de falecer – mesmo sem o ver pude perceber que me fitava abismado, me virei para ele e seus olhos se encheram de pena.
- Ai – ele sussurrou se aproximando mais de mim – Me desculpe não sabia...
Meus olhos se encheram de lagrimas, e só naquele momento percebi o que estava ocorrendo:a minha mãe morreu”, ao pensar isso me joguei em seus braços, e recomecei o choro, mas agora com mais dor, e minhas lagrimas realmente molharam sua blusa.
- Me desculpe se estou abusando, mas é que estou muito triste, e não tem ninguém neste momento que possa correr... – sussurrei – Tudo bem? – Perguntei apenas por educação.
- Não, tudo bem eu te entendo... bom eu não entendo, mas... – ele parou – Você entendeu o que eu quis dizer. – Ele colocou a mão em minha nuca fazendo-me um carinho não real que me acalmou, mas não o bastante para parar de chorar. Ele me levantou delicadamente e aproximou seu rosto, apenas nesse momento percebi que sentia um calor inexplicável em meu corpo, limpou as lagrimas de meu rosto não se importando com as outras que chegavam e molhavam minha face novamente, pisquei demoradamente para tentar relaxar, não fazia idéia do que estava acontecendo, ou preste a acontecer. A cada segundo que passava ele se aproximava, e juntamente com sua aproximação, o calor ia se aproximando de mim. O tempo parou por um milésimo de segundo, ou foi ele quem parou, não pude perceber, foi muito rápido, isso me fazendo tremer um pouco, e agora seus lábios quentes e confusos tocavam o canto de minha boca, de repente fiquei paralisada naquele momento, querendo que novamente o tempo parasse – ou ele – para que eu pudesse aproveitar aquele segundo com mais gosto, foi muito rápido. O olhei incrédula, não entendia o que acontecia comigo, mas queria sentir mais uma vez essa sensação. Consegui para de chorar, apenas em um segundo, mas logo depois as lagrimas escorreram de meus olhos contornando meu nariz, e antes que ela pudesse chegar a minha boca, novamente a face de sua mão quente encostou-se ao final de minha bochecha secando-a por completo. Olhei em seus olhos com mais profundidade, queria saber o que ele estava pensando, mas a única coisa que pude ver, foi meu reflexo.
Meu celular tocou me fazendo quebrar o silencio com um pulo e um quase grito – ele sorriu mais uma vez, se divertindo com meu susto -, atendi com a maior má vontade do mundo. Era meu pai e ele dizia choramingando: “filha pode subir.” Desliguei o celular me levantando, cambaleei um pouco e isso o fez rir baixinho, sorri tímida como resposta. E ele disse:
- Vai embora?
- Sim, meu pai quer falar comigo e minha irmã, ela estava no acidente...
- Ah sim! Ela está bem?
- Sim, acabou de voltar de uma cirurgia na perna, mas está bem.
- Hmmm... – ele olhava para baixo nesse momento e de repente seus olhos voltaram-se para os meus. Tremi. – Então é isso? – seu rosto agora estava serio, e sua boca fazia uma leve curva para baixo, mostrando-se triste
- Hmmm... – Foi só o que pude responder. Mas antes que fosse tarde demais lembrei-me de agradecer seu colo. – Talvez, quem sabe nos cruzamos por ai, algum dia, ah... obrigada, não sabe o quanto ajudou – dei um sorriso tímido e malicioso, queria que ele entendesse o duplo sentido de meu sorriso. Vir-me-ei devagar para a porta do hospital, antes que eu pudesse completar meu passo ouvi meu nome e me virei para respondê-lo. - Sim? - Ele me olhou timidamente
– Bom... – não o deixei falar fazendo um sinal com a mão, puxei o fecho de minha corrente de prata enquanto o fitava, a abri tirando-a de meu pescoço.
Dei um passo. Agora estávamos a menos de cinco centímetros um do outro, estiquei meu braço e peguei em sua mão pálida e quente, olhamos para nossas mãos e depois novamente nos olhamos – nossos olhos pararam ali. Ele ajudou a abrir sua mão quando entendeu o que eu queria, então joguei minha corrente em sua mão entrelaçando meus dedos nos dele, aproximei-me de seu rosto e nossos lábios se tocaram levemente. Quando os liberei, falei baixinho olhando para nossas mãos ainda entrelaçadas:
- Guarde isto com você – liberei sua mão enquanto o silêncio novamente tomava conta de nós. Pisquei bem devagar pensando em como quebrar o silencio. – Agora preciso realmente ir. Beijos.
Ele nada mais disse apenas continuou a me fitar com um leve sorriso – pude sentir o silencio se rastejando outra vez –, mas antes que ele pudesse chegar até nos, Guilherme me abraçou falando baixinho em minha orelha esquerda:
- Para sempre.
Abri a porta com cautela, estava com medo de que algum deles percebesse minha euforia. Agora o clima já estava mais calmo, Nicoli ainda chorava, mas era perceptível seu esforço para parar. Já meu pai estava com o rosto todo vermelho e os olhos inchados de tanto chorar. Da sala era fácil saber a pessoa mais forte. Eu. Provavelmente foi o que acabou de acontecer que me deixou assim. Nunca havia sentido aquilo na minha vida. Nunca, nunquinha. Parecia uma boba olhando-os, mas nenhum dos dois pareceu perceber. Para disfarçar, fechei a porta rápido e corri para abraçar Nicoli.
- Nick! Como você está?
- Ai maninha – ela desistiu de seu esforço -, eu não sabia disso – recomeçou com o choro – tinha desmaiado. Mas como isso pode acontecer?
- O pai disse que a batida foi forte e...
- Boa tarde – disse uma enfermeira me interrompendo e entrando sem bater na porta.
- Boa tarde – respondeu-lhe meu pai.
- Vim trazer um medicamento para Nicoli. Talvez ela venha a sentir algumas dores na perna operada, então estou com um remédio para dor.
- Ah! Claro, por favor, minha perna está começando há incomodar um pouco. Obrigada.
- Não há de que – a enfermeira realmente era simpática.
Fiquei parada sentada na cadeira macia e confortável que havia do lado da cama de minha irmã, observando a enfermeira injetar com uma seringa um remédio no soro.
- Pronto. A dor vai passar em poucos minutos.
- Obrigada novamente – respondeu Nicoli com um sorriso simpático.
- É obrigado – disse meu pai mais por educação.
- Voltando no assunto... a batida foi forte e você já sabe né – disse eu falando tristemente baixinho.
- É o papai me contou... – Ela baixava os olhos nesse momento e percebi um lagrima perdida cair em sua coberta.
- É né...
Não dissemos mais nada durante um longo tempo, apenas nos olhamos vagamente viajando em sonhos que nunca mais seriam realizados. De repente Eduardo colocou suas mãos em meu ombro – isso me fez pular – me chamando, olhei para trás, nossos olhos se encontraram, percebi que seus olhos continuavam a lacrimejar, e pelo reflexo de seus olhos percebi que por fora também chorava um pouco – já por dentro eu estava completamente inundada por lagrimas imaginarias.
- Filha já está tarde. Vou te deixar na casa de sua tia .
- Ah não pai! Por favor, deixe que eu fique com Nicoli.
- Desculpe Mich, mas sou eu quem vai ficar com ela. Você pode pedir à sua tia para que te traga todos os dias para cá. Mesmo assim não acho que seja necessário Nick só vai passar três dias aqui.
- Tudo bem, não acho que vou ganhar essa discussão – sempre fui muito compreensiva.
- Então vamos?
- Vamos... Beijos Nick até amanha, venho te ver...
- Beijos maninha. Pai você volta?
- Sim, a levarei para casa para que posa fazer uma mala, e depois volto.
- Tudo bem. Beijo pai.
Entrei no carro e sentei da mesma maneira que antes, apoiada na janela de olhos fechados tendo o mesmo sonho feliz de que, ao abrir os olhos, saberia que seria apenas um terrível pesadelo, e minha vida iria segui-lo para sempre. Abri os olhos, mas nada estava nítido em minha frente – realmente as lagrimas eram muitas – resolvi fechá-los novamente – por mais que soubesse a dor que iria sentir em meu peito quando os abrisse, queria poder sonhar a ultima vez com seu sorriso. Levantei a mão automaticamente e a coloquei em meu pescoço procurando meu colar de prata – como fazia antes sempre que me sentia mal – mas desta vez nada encontrei, abri meus olhos como reflexo e logo me lembrei da cena de hoje a tarde e sorri rapidamente, me senti muito mal por sorrir em um momento como esse então...
- Filha, dormiu?
- Hã? Ah sim... Quer dizer... não, não dormi não pai.
- Tudo bem, ande logo vá arrumar suas coisas.
- Tá, três dias né?
- Isso mesmo – ele disse tristonho, acho que nunca mais verei seu sorriso.
Saímos do carro com cuidado e andamos normalmente até a porta, assim que meu pai a abriu subi apressada a escada, andei até meu quarto peguei meu nécessaire rosa, joguei minha escova de dente, dois perfumes – não saio de casa sem passar perfume -, uma bolsinha preta de bolinhas brancas cheia de maquiagem – duvido que vá usar, mas por via das duvidas é sempre bom ter. Corri para meu quarto pegando minha mochila pelo caminho joguei todo o meu material em cima da cama, abri meu armário quase o quebrando por causa da força exagerada, escolhi os primeiros pares de roupa que vi e um pijama que roubara de minha mãe, amarrotei tudo em minha minúscula mochila.
Sai novamente correndo, mas desta vez desci a escada com mais cautela – subir escada é fácil agora descer correndo uma escada para mim é um trauma de infância... Aos seis anos lembro-me vagamente de ter caído destas escadas, tinha tropeçado em um brinquedo que minha irmã havia deixado jogado e rolei escada abaixo, depois disso nunca mais me atrevi a descer escada correndo – aproveitei a passada pela cozinha e roubei uma maçã da fruteira nova que mamãe ganhara de aniversário ano passado, ao encostar minha pele ao “vidro falso” – como eu costumava chamar aquele material – levei um choque, sai correndo mais rápido ainda – não queria ficar ali para lembrando-me de seu aniversário quando ela me disse ao ler o cantão que fizera “vou te amar para sempre, e nunca se esqueça que sou completamente imortal”. Finalmente cheguei à porta branca de madeira, passei a chave pela fechadura de metal, a girei e voltei para o carro onde meu pai já me esperava. Coloquei minha mochila no banco de tras e voltei à postura anterior no banco da frente.
- Não esqueceu nada?
- Tenho certeza que não pai
E essas foram as ultimas palavras ditas até a casa de minha tia, irmã de meu pai, Susan. Fechei a janela do carro – estava começando a ficar frio – apoiei minha cabeça no sinto de segurança fechei meus olhos e voltei ao pensamento “abrir os olhos e a verei sorrir novamente”, mesmo sabendo que não aconteceria tinha que me sentir bem e essa era a única maneira.
- Mich...
- Sim pai – respondi-lhe sonolenta.
- Chegamos...
- Ah! Sim... Bom, beijos... Mande melhoras para Ni e avise que estarei lá às cinco horas – ele fez uma cara de decepção quando falei que iria.
- Filha você sabe que não pre...
- Pai – interrompi. – Eu quero estar ao lado dela. Ela precisa de mim e eu dela... agora mais do que nunca.
- Tudo bem, não vou discutir.
- Beijo pai, te amo – ao dizer isso me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha.
- Eu também.
Sai do carro com calma e fui até o portão do prédio de Susan.

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