domingo, 2 de agosto de 2009

Capítulo primeiro
Não dissemos mais nada durante um longo tempo, apenas nos olhamos vagamente viajando em sonhos que nunca mais seriam realizados




Entrei em casa apressada chorando aos berros, corri até meu quarto – que é, ou talvez era, de Nicoli, minha irmã mais velha. Bati a porta com força que se fechou fazendo num estrondo. Logo em seguida escutei uma batida leve e assustada, quando olhei, a porta já estava novamente aberta, e resmunguei chorando:


- Pai, o que aconteceu, quer dizer... como aconteceu? Não pude nem me despedir da mamãe!
- Mich – ele me interrompia – Calma – sem dúvida não havia calma em sua voz.
- Edward – agora minha voz estava mais alta, ele me olhou feio quando pronunciei seu nome, provavelmente agora não era boa hora para chamá-lo pelo nome -, pai não vou me acalmar, eu escutei você no telefone, houve um acidente e a Ni está no hospital, já a mamãe... – Não tive coragem de continuar.
- Mich olhe... – ele pegou meu queixo baixo e o levantou -, olhe nos meus olhos - fiz o que ele pediu, mas só piorou a dor, o que vi em seus olhos era pior do que a morte de uma pessoa amada. Era como se ele estivesse para morrer ali, na minha frente, olhando para mim – Foi exatamente isso, um acidente, a batida foi forte e ela não resistiu – nossos olhos derramaram lagrimas ao mesmo tempo – Estou indo para o hospital agora.
- Posso ir com você?
- Sim, vamos.


O único som que interrompeu o silêncio foi o motor do carro e alguns resmungos de choro. O tempo não passava, enquanto eu de olhos fechados olhava para frente, apoiada na janela do carro, era como se naquele momento eu estivesse apenas sonhando um pesadelo, e pensava acordada ainda comigo mesma, “ao abrir os olhos a verei sorrir novamente.”
Não aconteceu.
- Mich já chegamos.
- Hã? Ah! Sim, tudo bem.
Sem a mínima vontade, sai do carro e fechei a porta. Entramos no hospital e quem nos recebeu foi um médico jovem, de cabelos louros escuros e olhos castanhos, que combinavam com seu tênis cor de terra.
- Sr. Edward Weber?
- Sim.
- Deixe me apresentar, sou Dr. Albert Volkmer.
- Ah! Sim, você que me ligou né?
- Sim, eu mesmo, bom, posso levá-los para o quarto de Nicoli?
- Sim, sim, sim – disse ofegante –, quero vê-la, como ela está?
- Está quase bem – disse ele nos apontando o caminho – Daqui a alguns dias ela poderá voltar para casa.
- Que bom... nada aconteceu com ela... – pensei alto – Nada de grave.
Ao entrar na sala percebi que estava vazia. Uma cadeira, um sofá que devia ter meu tamanho de comprimento, uma mesa de rodinhas um pouco mais grossa que a cama aonde o paciente – no caso, minha irmã – iria se deitar.
- Por que a sala está vazia? Quer dizer... por que minha irmã não está aqui?
- Ela está numa cirurgia, uma pequena cirurgia.
- Hã? Como assim – meu pai ficou vermelho com a resposta do médico.
- Calma senhor. Nada de grave aconteceu com ela. Apenas bateu a cabeça com muita força. E alguns vidros entraram em sua perna direita. Quando a tiramos do carro estava desmaiada. Mas nada é muito grave devo acrescentar.
- Quando poderemos vê-la?
- Assim que a cirurgia acabar.
- E isso significa...
- Não tenho muita certeza, talvez uma hora – o médico me interrompeu.
Um silêncio quase perturbador encontrou a sala durante uns cinco segundos que pareceram cinco horas, meu pai foi o primeiro a quebrá-lo falando muito baixo – provavelmente não queria que eu escutasse – mas com um esforço quase notável consegui ouvir:
- Hmmm... posso falar um minuto as sós com você?
- Claro – ele disse seguindo-o para fora do quarto vazio.
Liguei a televisão para disfarçar, e assim que a porta se fechou corri para escutar atrás dela. Com mais esforço, - por causa da televisão - consegui ouvir alguma coisa.
-Bom – meu pai começou a falar –, queria saber como foi exatamente o acidente, foi você quem as ajudou, não?
- Sim, fui eu – respondeu o médio. – Bom, eu não entendi direito, pelo que me pareceu ela perdeu o controle do carro. E eu estava a uns dois metros, mais ou menos, de distância, então pude ver com clareza o acontecido, mas mesmo assim não entendi – o médico realmente parecia confuso – Estava com o som ligado prestando atenção em uma Lamborghini laranja e preta que estava do lado do carro de sua mulher, foi então – ele suspirou lentamente – Que eu escutei um barulho alto, olhei para o lado procurando o autor do barulho.
Ele continuou:
- Foi quando vi que metade do lado esquerdo de um carro tinha entrado em um poste. E o trânsito parou no mesmo segundo. Aproveitei o trânsito lento para estacionar atrás de seu carro e ajudar as pessoas que estavam dentro...
- Então você viu Nicole e Elisabeth – meu pai interrompeu.
- Exatamente. Não conhecia, então tentei procurar por um documento ou celular enquanto ligava para o hospital, não demorou muito para encontrar uma bolsa jogada no chão do carro, atrás do banco do carona, abri imediatamente e liguei para o senhor e aqui estamos.
- Então, ela realmente faleceu... – Pelo tom da voz de Edward percebi que chorava, e o acompanhei saindo da sala e abraçando meu pai, antes mesmo de deixá-lo continuar.
- Pai, ela realmente mo... fa-aa? – Perguntei sem terminar, chorando baixinho.
- Sim, filha...
- Senhor quer que o leve para vê-la?
- Sim, por favor.
- Posso ir pai? – choraminguei
- Sim – respondeu ele me puxando para perto de seu peito – Nunca a proibiria de ver sua mãe.
- Vamos – disse o médico.
- Vamos – respondi, fingindo ser forte. Com certeza não enganei.
Entramos numa sala escura e muito gelada - quase me arrependi de ter querido ir -, havia muitas gavetas fechadas e duas macas com corpos cobertos com lençol branco. O medico louro andou até uma das macas, a maior, e nos chamou, meu pai foi primeiro me empurrando com delicadeza para trás.
- Venha – disse o médico.
Meu pai se aproximou com uma lentidão exagerada – parecia em choque, provavelmente não acreditava no que acontecia – ele parou na frente da maca e disse alguma coisa baixinho que não entendi, estava distante dele nesse momento. Ele se debruçou na maca onde minha mãe estava e lentamente sentou-se no chão. Percebi que chorava muito então corri para ajudá-lo, sentei-me ao seu lado deitei sua cabeça em meu ombro que agora tremia e falei baixinho “Pai, não fica assim – como se eu tivesse alguma moral para dizer isso. Estava quase pior que ele. – Agora não temos escolha, é tarde demais.” E ele chorou ainda mais, encharcando minha blusa preta pólo. E ele disse aos soluços:
- Filha você não sabe o que é perder alguém que ama...
- Pai eu também a amo – disse interrompendo. Agora estávamos sozinhos, só havia um homem, que não conhecia na porta da sala, esperando que nós saíssemos para trancá-la.
- Você não entende... Perder alguém que se ama e que é mãe de seus filhos, e o pior, morrer... – ao dizer isso eu acompanhei os soluços de choro dele – Tão cedo.
Não tive como responder, tenho apenas quatorze anos, e é obvio que não sei o que é perder alguém que se ama e que é também pai de meus filhos. Acho que nunca tive tanta pena de alguém na minha vida. Ver um pai jogado no chão frio de uma sala onde sua mãe está em uma maca morta. É horrível.
Saímos de lá desnorteados, fomos para o quarto de Nicoli, ela já estava acordada, e ao nos ver disse:
- Oi, gente – parecia meio grogue por causa da cirurgia.
- Oi, Ni! – Meu pai primeiramente disse com alegria.
- Oi, pai – respondeu ela com um meio sorriso. - Oi maninha.
- Oi, Ni, você já sabe o que aconteceu?
- Bom, eu lembro... – disse ela séria novamente – Quer dizer, eu me lembro de algumas partes...
- Algumas partes... quais ?
- Bom, eu me lembro da mamãe perder o controle do carro e dizer... “filha segura”, enquanto jogava sua mão direita em meu colo para me empurrar... falando nisso onde ela está?
- Pai – chamei baixinho.
- Fala, filha – ele continuava com os olhos vermelhos e inchados.
- Ela não sabe da mamãe?
- Não, ainda não. Por quê? Ela perguntou? – disse ele preocupado.
- Sim, ela quer falar com ela. O que digo?
- Deixe-me falar com ela a sós!
- Não posso estar junto?
- Sim, mas eu queria falar um momento sozinho... com ela.
- Ok, tudo bem.
Saí da sala andando meio rápido, e me sentei em uma cadeira cor de madeira clara e desconfortável, era baixa e o encosto estava meio quebrado na lateral esquerda. As paredes do corredor eram brancas e a cada três metros mais ou menos tinha uma porta, algumas maiores do que as outras. Percebi que não passava muito médico por este corredor e quando passavam entravam e saiam rapidamente, os poucos que entrava eram visitantes, com flores e presentinhos nas mãos. Decidi pegar meu Ipod e escutar algumas músicas enquanto esperava. O tempo parecia não passar, e cansei de ficar sentada naquela cadeira desconfortável.
Resolvi andar um pouco.
Fui pegar uma água – talvez seja melhor dois copos... Ni provavelmente vai precisar de um quando meu pai terminar. – Levantei-me rápido de mais, fiquei tonta, comecei a andar devagar, aumentando o passo conforme a tontura passava, enfim andava um pouco mais rápido que o normal. Baixei a cabeça para olhar meus tênis, que estava com o cadarço do pé esquerdo desamarrado.
- Ai – gritei ao cair no chão. Era tarde de mais para se arrepender de não ter parado antes para amarrá-lo.
- Opa – não reconheci a voz, decidir olhar para cima para descobrir quem era -, já vai? – Era um menino loiro de olhos pretos brilhantes quem falava, realmente não era para me arrepender de não ter amarrado meu tênis. Ele agora estendia seu braço um pouco mais comprido que o meu, sua palma pálida - como seu rosto e seus braços - estava esticada para mim, pude sentir as maças de meu rosto corar. Sorri timidamente pegando em sua mão confortavelmente quente.
- “Vergoínha” – cochichei comigo mesma. Acho que ele pode ouvir... logo quando terminei escutei uma risadinha leve e doce sair de sua boca. Agora eu estava de pé ao seu lado e pude perceber que usava uma calça jeans preta e uma blusa pólo da Lacoste listrada que combinava com a minha. Olhei novamente seu rosto, imaginei que tivesse minha idade, ele era apenas uma cabeça mais alto que eu, ou menos.
- Tudo bem, acontece... eu mesmo vivo caindo – e ele novamente deu seu sorriso acompanhado de um riso incomparavelmente leve e adocicado– Bom, meu nome é Philippe Lauck e o seu?
-Michelle Weber
- Hmmm... lindo nome. O que ia fazer antes de tropeçar? – ele riu novamente, me fazendo corar de novo.
- Pegar água para mim e... – ainda estava com um dos fones de ouvido em minha orelha, então pude escutar a musica que se seguia, e logo que a reconheci, meus olhos se encheram de lagrimas, não pude continuar.
- O que houve? – Perguntou Philippe assustado. – Desculpe, foi algo que a disse? – Ele continuou com sua face paralisada, mas seus braços pálidos correram para me abraçar. Ele parou.
- Não, nada que você disse, é que... – parei, suspirei lentamente e continuei. – Bom – recomecei – vamos nos sentar que eu te explico.
- Só se você me deixar pagar a água. – Ele tentava descontrair.
- Tudo bem – respondi com um quase sorriso no rosto.
Ele comprou a água enquanto eu mandava uma mensagem para meu pai explicando onde estava. Sentamo-nos na frente de um murinho que havia fora do hospital, nos apoiamos nele devagar. Ao sentar apoiei minha cabeça entre meus joelhos – pude sentir seu olhar de duvida em mim -, levantei minha cabeça dei um gole curto da água o olhei e falei:
- Desculpe, não devia ter feito aquilo, é que – me virei novamente para ver o horizonte de prédios em nossa volta - Na hora não pensei... Estava com o Ipod ligado e começou uma musica que lembrava minha mãe, e ela acabou de falecer – mesmo sem o ver pude perceber que me fitava abismado, me virei para ele e seus olhos se encheram de pena.
- Ai – ele sussurrou se aproximando mais de mim – Me desculpe não sabia...
Meus olhos se encheram de lagrimas, e só naquele momento percebi o que estava ocorrendo:a minha mãe morreu”, ao pensar isso me joguei em seus braços, e recomecei o choro, mas agora com mais dor, e minhas lagrimas realmente molharam sua blusa.
- Me desculpe se estou abusando, mas é que estou muito triste, e não tem ninguém neste momento que possa correr... – sussurrei – Tudo bem? – Perguntei apenas por educação.
- Não, tudo bem eu te entendo... bom eu não entendo, mas... – ele parou – Você entendeu o que eu quis dizer. – Ele colocou a mão em minha nuca fazendo-me um carinho não real que me acalmou, mas não o bastante para parar de chorar. Ele me levantou delicadamente e aproximou seu rosto, apenas nesse momento percebi que sentia um calor inexplicável em meu corpo, limpou as lagrimas de meu rosto não se importando com as outras que chegavam e molhavam minha face novamente, pisquei demoradamente para tentar relaxar, não fazia idéia do que estava acontecendo, ou preste a acontecer. A cada segundo que passava ele se aproximava, e juntamente com sua aproximação, o calor ia se aproximando de mim. O tempo parou por um milésimo de segundo, ou foi ele quem parou, não pude perceber, foi muito rápido, isso me fazendo tremer um pouco, e agora seus lábios quentes e confusos tocavam o canto de minha boca, de repente fiquei paralisada naquele momento, querendo que novamente o tempo parasse – ou ele – para que eu pudesse aproveitar aquele segundo com mais gosto, foi muito rápido. O olhei incrédula, não entendia o que acontecia comigo, mas queria sentir mais uma vez essa sensação. Consegui para de chorar, apenas em um segundo, mas logo depois as lagrimas escorreram de meus olhos contornando meu nariz, e antes que ela pudesse chegar a minha boca, novamente a face de sua mão quente encostou-se ao final de minha bochecha secando-a por completo. Olhei em seus olhos com mais profundidade, queria saber o que ele estava pensando, mas a única coisa que pude ver, foi meu reflexo.
Meu celular tocou me fazendo quebrar o silencio com um pulo e um quase grito – ele sorriu mais uma vez, se divertindo com meu susto -, atendi com a maior má vontade do mundo. Era meu pai e ele dizia choramingando: “filha pode subir.” Desliguei o celular me levantando, cambaleei um pouco e isso o fez rir baixinho, sorri tímida como resposta. E ele disse:
- Vai embora?
- Sim, meu pai quer falar comigo e minha irmã, ela estava no acidente...
- Ah sim! Ela está bem?
- Sim, acabou de voltar de uma cirurgia na perna, mas está bem.
- Hmmm... – ele olhava para baixo nesse momento e de repente seus olhos voltaram-se para os meus. Tremi. – Então é isso? – seu rosto agora estava serio, e sua boca fazia uma leve curva para baixo, mostrando-se triste
- Hmmm... – Foi só o que pude responder. Mas antes que fosse tarde demais lembrei-me de agradecer seu colo. – Talvez, quem sabe nos cruzamos por ai, algum dia, ah... obrigada, não sabe o quanto ajudou – dei um sorriso tímido e malicioso, queria que ele entendesse o duplo sentido de meu sorriso. Vir-me-ei devagar para a porta do hospital, antes que eu pudesse completar meu passo ouvi meu nome e me virei para respondê-lo. - Sim? - Ele me olhou timidamente
– Bom... – não o deixei falar fazendo um sinal com a mão, puxei o fecho de minha corrente de prata enquanto o fitava, a abri tirando-a de meu pescoço.
Dei um passo. Agora estávamos a menos de cinco centímetros um do outro, estiquei meu braço e peguei em sua mão pálida e quente, olhamos para nossas mãos e depois novamente nos olhamos – nossos olhos pararam ali. Ele ajudou a abrir sua mão quando entendeu o que eu queria, então joguei minha corrente em sua mão entrelaçando meus dedos nos dele, aproximei-me de seu rosto e nossos lábios se tocaram levemente. Quando os liberei, falei baixinho olhando para nossas mãos ainda entrelaçadas:
- Guarde isto com você – liberei sua mão enquanto o silêncio novamente tomava conta de nós. Pisquei bem devagar pensando em como quebrar o silencio. – Agora preciso realmente ir. Beijos.
Ele nada mais disse apenas continuou a me fitar com um leve sorriso – pude sentir o silencio se rastejando outra vez –, mas antes que ele pudesse chegar até nos, Guilherme me abraçou falando baixinho em minha orelha esquerda:
- Para sempre.
Abri a porta com cautela, estava com medo de que algum deles percebesse minha euforia. Agora o clima já estava mais calmo, Nicoli ainda chorava, mas era perceptível seu esforço para parar. Já meu pai estava com o rosto todo vermelho e os olhos inchados de tanto chorar. Da sala era fácil saber a pessoa mais forte. Eu. Provavelmente foi o que acabou de acontecer que me deixou assim. Nunca havia sentido aquilo na minha vida. Nunca, nunquinha. Parecia uma boba olhando-os, mas nenhum dos dois pareceu perceber. Para disfarçar, fechei a porta rápido e corri para abraçar Nicoli.
- Nick! Como você está?
- Ai maninha – ela desistiu de seu esforço -, eu não sabia disso – recomeçou com o choro – tinha desmaiado. Mas como isso pode acontecer?
- O pai disse que a batida foi forte e...
- Boa tarde – disse uma enfermeira me interrompendo e entrando sem bater na porta.
- Boa tarde – respondeu-lhe meu pai.
- Vim trazer um medicamento para Nicoli. Talvez ela venha a sentir algumas dores na perna operada, então estou com um remédio para dor.
- Ah! Claro, por favor, minha perna está começando há incomodar um pouco. Obrigada.
- Não há de que – a enfermeira realmente era simpática.
Fiquei parada sentada na cadeira macia e confortável que havia do lado da cama de minha irmã, observando a enfermeira injetar com uma seringa um remédio no soro.
- Pronto. A dor vai passar em poucos minutos.
- Obrigada novamente – respondeu Nicoli com um sorriso simpático.
- É obrigado – disse meu pai mais por educação.
- Voltando no assunto... a batida foi forte e você já sabe né – disse eu falando tristemente baixinho.
- É o papai me contou... – Ela baixava os olhos nesse momento e percebi um lagrima perdida cair em sua coberta.
- É né...
Não dissemos mais nada durante um longo tempo, apenas nos olhamos vagamente viajando em sonhos que nunca mais seriam realizados. De repente Eduardo colocou suas mãos em meu ombro – isso me fez pular – me chamando, olhei para trás, nossos olhos se encontraram, percebi que seus olhos continuavam a lacrimejar, e pelo reflexo de seus olhos percebi que por fora também chorava um pouco – já por dentro eu estava completamente inundada por lagrimas imaginarias.
- Filha já está tarde. Vou te deixar na casa de sua tia .
- Ah não pai! Por favor, deixe que eu fique com Nicoli.
- Desculpe Mich, mas sou eu quem vai ficar com ela. Você pode pedir à sua tia para que te traga todos os dias para cá. Mesmo assim não acho que seja necessário Nick só vai passar três dias aqui.
- Tudo bem, não acho que vou ganhar essa discussão – sempre fui muito compreensiva.
- Então vamos?
- Vamos... Beijos Nick até amanha, venho te ver...
- Beijos maninha. Pai você volta?
- Sim, a levarei para casa para que posa fazer uma mala, e depois volto.
- Tudo bem. Beijo pai.
Entrei no carro e sentei da mesma maneira que antes, apoiada na janela de olhos fechados tendo o mesmo sonho feliz de que, ao abrir os olhos, saberia que seria apenas um terrível pesadelo, e minha vida iria segui-lo para sempre. Abri os olhos, mas nada estava nítido em minha frente – realmente as lagrimas eram muitas – resolvi fechá-los novamente – por mais que soubesse a dor que iria sentir em meu peito quando os abrisse, queria poder sonhar a ultima vez com seu sorriso. Levantei a mão automaticamente e a coloquei em meu pescoço procurando meu colar de prata – como fazia antes sempre que me sentia mal – mas desta vez nada encontrei, abri meus olhos como reflexo e logo me lembrei da cena de hoje a tarde e sorri rapidamente, me senti muito mal por sorrir em um momento como esse então...
- Filha, dormiu?
- Hã? Ah sim... Quer dizer... não, não dormi não pai.
- Tudo bem, ande logo vá arrumar suas coisas.
- Tá, três dias né?
- Isso mesmo – ele disse tristonho, acho que nunca mais verei seu sorriso.
Saímos do carro com cuidado e andamos normalmente até a porta, assim que meu pai a abriu subi apressada a escada, andei até meu quarto peguei meu nécessaire rosa, joguei minha escova de dente, dois perfumes – não saio de casa sem passar perfume -, uma bolsinha preta de bolinhas brancas cheia de maquiagem – duvido que vá usar, mas por via das duvidas é sempre bom ter. Corri para meu quarto pegando minha mochila pelo caminho joguei todo o meu material em cima da cama, abri meu armário quase o quebrando por causa da força exagerada, escolhi os primeiros pares de roupa que vi e um pijama que roubara de minha mãe, amarrotei tudo em minha minúscula mochila.
Sai novamente correndo, mas desta vez desci a escada com mais cautela – subir escada é fácil agora descer correndo uma escada para mim é um trauma de infância... Aos seis anos lembro-me vagamente de ter caído destas escadas, tinha tropeçado em um brinquedo que minha irmã havia deixado jogado e rolei escada abaixo, depois disso nunca mais me atrevi a descer escada correndo – aproveitei a passada pela cozinha e roubei uma maçã da fruteira nova que mamãe ganhara de aniversário ano passado, ao encostar minha pele ao “vidro falso” – como eu costumava chamar aquele material – levei um choque, sai correndo mais rápido ainda – não queria ficar ali para lembrando-me de seu aniversário quando ela me disse ao ler o cantão que fizera “vou te amar para sempre, e nunca se esqueça que sou completamente imortal”. Finalmente cheguei à porta branca de madeira, passei a chave pela fechadura de metal, a girei e voltei para o carro onde meu pai já me esperava. Coloquei minha mochila no banco de tras e voltei à postura anterior no banco da frente.
- Não esqueceu nada?
- Tenho certeza que não pai
E essas foram as ultimas palavras ditas até a casa de minha tia, irmã de meu pai, Susan. Fechei a janela do carro – estava começando a ficar frio – apoiei minha cabeça no sinto de segurança fechei meus olhos e voltei ao pensamento “abrir os olhos e a verei sorrir novamente”, mesmo sabendo que não aconteceria tinha que me sentir bem e essa era a única maneira.
- Mich...
- Sim pai – respondi-lhe sonolenta.
- Chegamos...
- Ah! Sim... Bom, beijos... Mande melhoras para Ni e avise que estarei lá às cinco horas – ele fez uma cara de decepção quando falei que iria.
- Filha você sabe que não pre...
- Pai – interrompi. – Eu quero estar ao lado dela. Ela precisa de mim e eu dela... agora mais do que nunca.
- Tudo bem, não vou discutir.
- Beijo pai, te amo – ao dizer isso me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha.
- Eu também.
Sai do carro com calma e fui até o portão do prédio de Susan.

8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. asuhuhsuhsauh.. se chama de tathtequila e quer escreve um livro =x

    asuhuhasasuh


    ta ficaaando bom amoor =]

    ResponderExcluir
  3. ta muito boom taati parabeens minha lindaa...

    ResponderExcluir
  4. HAHAHA n tneho saco de le + pelos comentarios de todomundo teve tah mt bom XD

    Parabens,
    bjs

    ResponderExcluir
  5. huahuHUhuHU q boniiiito seu livro, maais nem li" =] uhuahauhuahuahua


    mesmo assim eu acompanhei vc escrevendo isso ( nas aulas) ♥

    beijoos

    ResponderExcluir
  6. qm diria vc escrever um livro!!!

    heheehhehee

    td nessa vida eh possivel mesmo .

    bjos!!!

    ResponderExcluir
  7. Ain que megabom FLOR!!
    tô adorando vou acompanhar... =D

    ResponderExcluir

Seguidores