domingo, 16 de maio de 2010

Capitulo Quinto

“Fechei os olhos e só ousei abri-los novamente quando o sol já havia deixado a vista do meu céu.”


     Resolvi então sair da li, levantei levando meu celular comigo e fui para o pátio de meu colégio. Sentei-me em um banco branco de madeira e só quando parei percebi que minha visão estava embaçada por causa das lagrimas que molhavam excessivamente meus olhos. Pisquei forte e uma lagrima molhou minha calça.
     Peguei meu celular e pensei preto. Vazio. Não sabia o que queria, só sabia que eu queria alguma coisa. Talvez minha mãe, talvez Philippe, ou talvez entender. Entender o que? Porque todo mundo estava me olhando daquele jeito!? Abri meu celular e mandei uma mensagem para Emma:

“Emma! Vem pro pátio? URGENTE! Preciso d voc!”

     Não demoro um minuto a vi chegando com a maior cara de preocupação. Perguntei-me porque chegou tão rápido.
     - Mich! O que houve com você na sala?
     - Não sei! – disse choramingando enquanto Emma se aproximava de mim sentando no banco – Comecei a escutar uma musica e de repente umas imagens em fleches começaram a encher minha mente e...
     - Não quero dar uma de amiga nerd chata, mas Mich você tem noção da altura que gritou na sala?
     - Eu gritei? – ótimo! Primeiro perco minha mãe, segundo me apaixono por um menino que nunca mais verei e só para me deixar pior uma terceira coisa tinha que acontecer. Agora vou fica loca? Vi-me dando um sorriso irônico choramingante em minha mente.
     - Grito... você não lembra...? – olhei para ela com os olhos ainda embasados e ela me lançou um olhar do tipo tudo-bem-não-precisa-responder.
     - O que eu gritei? – disse por fim. 
     - Nãaaao! Ahh! – gritou ela tentando me imitar.
     - Não faz tanto sentido assim!
     - O que você viu? – franziu o cenho.
     - Era tudo preto e branco e congelado. Digo: nada se mexia nos fleshes. Tinha uma maca na qual minha mãe estava deitada e meu pai jogado no chão sentado chorando, mas havia algo mais que eu não consegui entender, algo estranho e que me deixou com medo. – franzi o cenho – Ai, do nada senti alguém segurando minha mão – disse fechando-a fortemente – mas não havia ninguém e eu sabia disso – olhei para o chão. – Sentia que era o vento... Mas alguma coisa parecia tão real que me confundi apensar que o menino loiro da foto sabe? – ela fez que sim com a cabeça – Estava segurando minha mão...
    - Calma. Calma. CALMA – falou ela balançando a cabeça. – O que tem uma coisa haver com a outra?
     - Eu o conheci no hospital.
     - E a musica...?
     - É uma musica que me lembra mamãe, ela que me apresentou e eu estava ouvindo quando conheci Philippe!
     - Sinceramente não sei o que posso falar para que se sinta melhor. Nunca fui boa em dar conselhos e essas coisas – concordei fazendo-a sorrir de leve. – Mas você sabe que pode falar o que quiser para mim, me contar tudo, chorar tudo que quiser...
     - Sim, eu sei... obrigada. – já estava me sentindo melhor – Mas só uma perguntinha... Como chegou tão rápido aqui? Eu mandei uma mensagem para você e em dois segundos você chegou...
     - Mandou é? – não respondi, sabia que era uma pergunta retórica – É que meu celular ficou lá em cima, quando você gritou e saiu correndo eu ia te seguir, mas sabia que ia levar a maior bronca da professora... Por isso eu meio que “demorei” para chegar, fui pedir permissão para ela.
     - Ah!... Entendi! Bom, Emma é melhor que suba para terminar seu texto. Você precisa de um ponto na média de História – sorri com a piadinha, e ela também.
     - É isso é verdade. Mas só subo se me garantir que está bem...!
     - Estou quase ótima – menti.
     Emma percebeu, mas entendeu que eu precisava ficar sozinha então subiu – isso é uma das coisas que eu mais gosto nela... que a diferencia das outras pessoas. Ela sabe quando agente nega algo, mas é apenas por educação, o que a faz insistir até que aceitemos. Mas ela também sabe quando agente nega alguma coisa e é verdade, ai ela sai de uma maneira educada. A mesma coisa quando agente aceita.
     Passei o resto da aula no pátio do colégio pensando em nada e chorando de fininho. Enfim o sinal tocou e em cinco segundo ou menos já se ouvia os alunos e alunas conversando alto e andando – alguns correndo – para as escadas.
     - Mich! – ouvi alguém chamar.
     - Mich precisamos conversar! – outra voz se destacou no meio de todo o falatório da hora do intervalo.
     Ah!, oi meninas – disse forçando um sorriso.
     - Então... deixe falar – Jú  parou ao perceber meu sorriso falso e então sua animação a acompanho. – É... bem, fale-me você! O que aconteceu na sala? O que houve que você faltou esses dias...?
     Eu a interrompi fazendo um sinal com de “pare” com a mão e então disse de olhos fechados e bem calma.
     - Jú, minha mãe morreu! – Abri os olhos ao terminar a frase e vi seu rosto chocado. Suas mãos caíram ao lado de seu corpo e então ela levantou um dedo fracassando, depois sorriu – de uma maneira muito irritante – ironicamente, enquanto tentava dizer algo do tipo “a... pare!” e “você está brincando!” fiz que não com a cabeça e seu sorriso irônico – e irritante - e nervoso desmanchou-lhe o rosto.
     - Mi! Você deve estar péssima! Como será perder...
     - Jú você não está ajudando assim – por minha sorte Emma a interrompeu antes de terminar a frase.
     - Tudo bem Emma – tentei ser educada.
     Ficamos um curto tempo em um silencio quase perturbador, então vi Allan chegar perto de nós com sua cara curiosa fixada no rosto surpreso de Jú. Ele apressou o passo e chegou até nós.
     - Me contem tudo! – disse ele com um quase sorriso, e preocupado.
     - Ai meninas o que houve? – continuou ele chocado. (Às vezes acho que ele é meio gay! Que menino se interessa numa fofoca deste jeito?)
     - Allan sabe o que eu disse que precisava falar com você? – não deixei que respondesse – Então... o que aconteceu é que minha mãe... – olhei para minhas mãos, elas estavam fechadas com força. – Ela e... ela morreu à uns dias e...
     - AH. NÃO. MICH! – disse ele enfatizando cada palavra – Não acredito! Elizabeth era tão legal! Como? Quando? P... – ele não continuou então aquele silêncio perturbador novamente nos cercou.
     Fechei meus olhos com força para não chorar e então senti algo me apertar calorosamente forte – algo quente e acolhedor. Senti como se tivesse novamente com minha mãe.
     - Mich, não fique mal com isso... quer dizer, é uma coisa que não se pode evitar e tão obvia que as pessoas não deveriam se abalar tanto assim, mas eu entendo o que você está passando!
     - Tudo bem, não estou mal – menti sorrindo -, só sinto falta dela. Bom... – limpei as lagrimas que ameaçavam cair – enfim, vamos mudar de assunto? – terminei a frase olhando para Emma que entendeu claramente o motivo.
     Levantei-me e sorri dando meus braços para as meninas enquanto Allan dava um breve “Até logo!” e saiu correndo.
     Andamos até a cantina e compramos um sanduíche natural para cada. Fomos nos sentar em um dos banquinhos brancos que havia perto da quadra. Então vi Benjamin, que estava jogando bola na aula de Educação Física. Sorri maliciosamente para Jú e disse:
     - Então... temos uma menina apaixonada no grupo? – olhei para ela e a vi corar.
     - É bem... pode ser – Julia engasgou ao responder.
     - SIM ou Não? – gritou Emma enfatizando mais o “sim” do que o “não”
     - Conta tudo! – disse apressada.
     - Tá bom! – Sorriu ela mostrando-nos seus deslumbrantes dentes brancos que combinavam com sua pele levemente escura e seus cabelos lisos escorridos castanhos.
     Então Jú nos contou tudo sobre seu encontro; que eles ficaram, e que ela nunca tinha sentido algo tão... - “tão, tão... não sei explicar” palavras dela – o sinal tocou nos dando um susto, nos levantamos e quando estávamos a uns dez metros de distancia da quadra ouvimos um menino gritar:
     - Jú! Me espera! – Olhamos para trás e vimos Benjamim correndo em direção a ela. Ao voltarmos o olhar a Jú vimos seu sorriso “incomparador”.
     - Vai lá – disse empurrando-a depois de piscar maliciosamente.
    
     A aula de espanhol já tinha começado quando o professor me chamou até sua mesa – adivinhem para que? Isso! Para me deixar mais mal... -, não disse nada apenas balancei a cabeça assentindo nos momentos certos e depois voltei para minha carteira. Sentei e apoiei meus braços na mesa, não demorou muito tempo para eu me sentir mal e deitar minha cabeça
     - Aiii! – gemi um pouco forçado ao sentir algo leve me acertar com força. Um papel... – do fichário de Emma, para ser mais específica! – A olhei e vi seus olhos transbordando pena, aliás, ela sabe o que é perder alguém muito importante. Peguei o papel do chão e o abri:

     Mi, vc sab que nao precisa ficar! Ficar no colégio assim nao é muito bom pra vc...  nem pra ninguém!

     A olhei e fiquei pensando “ir ou não ir?” depois imaginei eu novamente tendo de novo aquelas visões, gritando do nada sem sequer perceber, e preocupando a todos sem motivo. Resolvi então que Emma estava certa, ela sabia o que era melhor para mim neste momento. Ela já perdeu a mãe e o irmão quando era menor, e pelo que ela nos contou não foi de uma maneira “civilizada”, o irmão que na época tinha dezessete anos morreu esfaqueado por uns adolescentes que ele devia dinheiro, e a mãe três dias depois se suicidou.

       É Em... é melhor que eu va mesmo. Nao to me sentindo muito bem. Obrigada! =/¹

     Joguei em Em – literalmente, mas sem querer – o papel e peguei minha mochila jogando dentro dela meu estojo me levantei e fui até o professor, expliquei para ele que estava mal e que iria para casa, ele assentiu, mas pediu para que eu falasse com a diretora. Foi o que fiz. Ao sair passei na sala dela, ela ligou para meu pai que não atendeu, mas eu a garanti que iria voltar para casa, ela deixou após uma pequena insistência. Peguei um ônibus e voltei.
     Tirei a mochila e procurei a chave, a achei e abri a porta. Quando coloquei meus pés no chão frio - que antes minha mãe costumava varrer comigo escutando musica e brincando que estávamos em um baile dançando “a dança da vassoura” - logo imaginei minha mãe com “cara-de-interrogação” me olhando, eu como resposta disso – se realmente tivesse acontecendo – iria sorrir e lhe explicar o que havia acontecendo, mas não! Lá não estava minha mãe, ali havia apenas sombras de lembranças e de saudades! Que ficariam lá para sempre!
      Novamente minha visão começou a embaçar, minhas pernas a tremerem, suspirei profundo lentamente. Dei outro passo e me virei para fechar a porta, fui até a cozinha peguei uma maçã que estava na fruteira que minha mãe ganhara de aniversário. Enquanto mordia ela e andava até as escadas mandei uma mensagem para meu pai dizendo que estava em casa.
     Cheguei ao meu quarto, fechei a porta e andei – na verdade me arraste – até minha cama, tirei meus tênis e subi nela para fechar as cortinas. Deitei virada pêra meu criado-mudo, nele havia duas fotos, uma de mamãe, e a outra era a que Philippe me dera no hospital. Ascendi à luz de uma pequena lanterna que havia ao lado das fotos, e peguei a foto de Philippe, centrei a luz em seu rosto, fechei os olhos com força tentando não chorar e sonhei acordada por um breve tempo, “só nós dois – não precisa ter, mas nada (fortaleci este pensamento) – sentados apoiados num murinho conversando apaixonadamente. Abri meus olhos. “Será que ele pensa assim também?” perguntei para mim mesma. Resolvi então que eu devia dormir. Esperar deitada na cama com aquele pensamento não ia adiantar em nada – dormir também não, mas pelo menos não perceberia o tempo passar.

     Acordei eram seis horas, com fome desci as escadas até a cozinha, peguei um pão e fiz pão na chapa, como costumava fazer Elisabeth.
     - Filha? – ouvi meu pai gritar meio baixo ao abrir a porta de casa. Dei um pulo.
     - Ai pai, que susto! – virei de volta para terminar de comer meu pão.
     - O que houve para você voltar para casa?
     - É... exatamente isso – não precisava dizer mais nada, dava para saber que ele sabia do que estava falando.
     - É... hmmm.. quer ajuda?
     - Não, obrigada, já terminei... que horas a gente vai jantar?
     - Não sei... Aliás, Mi, você sabe onde sua irmã está?
     - Não está no quarto dela?
     - Dormindo ainda? Não acredito! Que horas que ela voltou com Lucas?
     - Calma pai, lembra que ela saiu com ele ontem já eram umas dez horas! – era isso? – Vai ao quarto dela ver se ela está lá, eu dormi a tarde inteira, ela pode ter se levantado e agente não ter percebido.
     - Tudo bem.
     Ele se foi subindo as escadas, mas sua presença ainda permanecera por suas palavras gritadas do andar de cima.
     - Nicoli! Levante-se já! – um silencio curto agarrou a casa – Niiiiicoli Weber!
     Esperei um tempo então resolvi fingir que não estava escutando, andei de vagar ignorando os gritos de meu pai com minha irmã “rebelde” e liguei a televisão, mudei de canal rapidamente, nada de bom estava passando, então mudei para minha ultima esperança – canal de filmes – e estava passando Ps: Eu te amo, fiquei pensando se veria ou não, quando meu pai desceu furioso e saiu de casa. Dei um pause na televisão e subi rápido para o quarto de minha irmã, ela chorava baixo, e dizia algumas coisas ininteligíveis.
     - O que houve Nick?
     - O que houve? – ela deu uma risada irônica – Olhe para isso! – tirou a mão debaixo das cobertas e quase a lançou em mim. – Olhe!
     Em sua mão haviam vários cortes avermelhados costurados com um tipo de linha preta, percebia minha boca formar um “O”, mas me contive, não por muito tempo, pois quando ela tirou sua perna operada de debaixo das cobertas o que me falto foi apenas gritar.
      - O, que, a-con-te-ceu? – sibilei cada palavra automaticamente.
     Ela ainda chorava – agora mais – e falou entre soluços.
     - Fomos assaltados ontem...
     - Na-na-na-na-naão me diga que vocês foram para... - a interrompi.
     - É, pois é. – Ni esperou um pouco e então continuou não tendo sucesso para segurar suas lagrimas - A noite estava linda agente queria ir para a praia, cheguei muito tarde! Então lá tinham uns marginais que nos viram, então vieram nos pedir dinheiro, só que nós estávamos apenas com os documentos e ele com o celular. – novamente parou, suspirou profundo e lentamente e cuspiu as palavras em cima de mim – Como não tínhamos nada para lhe oferecer – a não ser o celular de Lucas – eles vieram com umas facas para cima de nós, protegi meu rosto e olha! – gritou ela. – Olha minha mão!
     Simplesmente não tive reação e um leve sorriso de nervoso apareceu indesejavelmente em minha face.
     - E-e... – gaguejei -, c-como que vo-v-você está toda costurada?
     - Lucas não teve ferimentos muito graves, ele me pegou no colo e me levou para o carro, pegou meu celular e ligou para um amigo que nos encontrou no hospital e...
     - Ok. Já entendi! Mas o que você quis dizer com “ferimentos graves”? Quer dizer que você tem ferimentos graves?
     - Não! – agora ela já havia parado de chorar – Mas... Ah!, você entendeu o que eu quis dizer!
     - Que susto! E para onde o papai está indo?
     - Disse que ia para casa de Lucas, por isso que estou chorando.
     - Ah... quer ligar lá não é?
     - Sim! Por favor, passa o telefone sem fio e vaza do quarto!
     Olhei-a revirando os olhos e sai do quarto jogando o sem fio em sua cama. Fechei a porta e desci correndo para a sala, peguei uma maçã na cozinha e depois subi para meu quarto. Enquanto comia, lia. Acabei o primeiro livro da coleção Crepúsculo e então como já tinha toda a coleção comecei o segundo Lua Nova ao chegar no terceiro capitulo percebi que chorar um pouco – como ele pode fazer uma coisa dessas com ela? – perguntava para mim, enquanto passava de capitulo em capitulo até meu relógio marcar dez horas.
     - Opa! Esqueci do filme – falei em voz alta, então abri a porta e corri para a sala, meu pai já havia voltado e estava com a cara mais “amarrada” do mundo.
     - Oi pai, vim pegar um CD.
     - Oi. É... filha, sente aqui um minuto.
     “A não! Só falta ele querer me usar como uma ‘espiã’ para descobrir – como se eu já não soubesse – alguma coisa da minha irmã.” Pensei
     - Sim – disse ao sentar.
     - Queria te pedir uma coisa, é muito importante, e como sei que com sua irmã não vai dar certo... Queria ter total confiança em você... Quero que você sempre me diga para onde vá com seus amigos, para que não cometa o mesmo erro que Nicoli.
     - Pai, tudo bem... eu não vou fazer burra...
     - Apenas prometa – ele me interrompeu.
     - Tudo bem, eu prometo.
     - Ok. Pode ir. Não vá dormir muito tarde!
     - “Podexa” – gritei enquanto subia a escada rumo ao meu quarto, para ver o filme.
     Abri minha porta e corri para a televisão. Coloquei o CD no aparelho de DVD e apertei o play.

     - Ãh? – Acordei tomando um susto. – Que barulho é esse? – tentei abrir meus olhos sem sucesso. “Ah!, droga, hoje é dia de faxina, a moça que trabalha aqui chego... mais tão cedo?” pensei comigo mesma ainda tentando abrir meu olhos. Me virei na cama, ficando de barriga para baixo e com o travesseiro em cima de minha cabeça. Fechei os olhos e só ousei abri-los novamente quando o sol já havia deixado a vista do meu céu. Acordei ótima, como se tivesse nascido de novo – ou como se minha mãe ainda estivesse viva – me levantei rápido e fui logo tomar eu café da manha – ou melhor, dizendo meu lanche da tarde – uma banana amassada com aveia. Foi quando escutei um leve gemido vindo de algum lugar de cima. Nicoli!
     Subi correndo as escadas abri a porta de seu quarto e lá estava ela, rolando de um lado para o outro com todas as luzes apagadas gemendo – quase gritando – de dor. Mas com o que? Percebi que seus olhos estavam fechados, relaxei
     - Nicoli! – gritei baixo enquanto segurava seus ombros – Nicoli! – falei um pouco mais alto. – ACORDE! – gritei, e no mesmo instante seus olhos abriram assustados e vermelhos.
     - Que? Porque me acordou? – brigou ela.
     - Porque você mais gemia e gritava do que dormia – peguei um espelho que havia do lado de sua escrivaninha -, olhe!
     - Ah! Que isso? Sou e-eu? Meus olhos! – já imaginava essa reação dela, - só que pensei que seria mais exagerada –, menina mimada, de olhos verdes esmeraldas e cabelos negros, quase azuis de tão negros só poderia morrer se algo estranho acontecesse com seu lindo “corpitcho”. – Michelle, o que você fez? Porque eles estão assim? Colírio, colírio! Ai!, parece que eu passei a noite fumando! Não acredito nisso! – ela entrava em desespero e eu me divertia de ver seu rosto quase da cor de seus olhos.
     - Ou! Calma ai! Não fiz nada com você! Estou rindo da cara que você fez! Se você não sabe o motivo de seus olhos estarem vermelhos... – esperei um pouco –, imagina eu!
     - Tá! Meus olhos podem estar vermelhos, mas porque? – ela parou um pouco e pareceu pensar. – Eu sonhei esta noite. Eu sonhei! – Nicoli esperou uma resposta, mas apenas sentei em sua cama e fiz que sim com minha cabeça. – Sonhei com varias coisas... não me lembro bem, mas parece que o seu enamorado estava lá.
     - Ok! Agora isso está ficando pessoal, o que você sonhou com o Philippe? – disse irritada.
     - Não lembro! Só lembro que ele estava lá, ai algumas dores fortes começaram a me agarrar – digamos assim – a perna.
     - Tudo bem, temos uma desculpa pelos gritos. Mas por que os olhos...? – não completei a frase.
     - Só lembro-me de olhar em um espelho bem grande, tipo aqueles de balé sabe? – fiz que sim – Ai você me acordou.
     - Estranho! – Nicoli balançou a cabeça para cima e para baixo e voltou a se deitar. - Bom, enfim... Vou voltar para baixo, qualquer coisa grita... geme, sei lá faz algo para que eu suba.
     - Uhu, ta bem.
     Desci para a cozinha e terminei de comer meu “café da manha”, fui para sala e fiquei assistindo um filme – não me pergunte o nome. Meu pai chegou da rua andando pesadamente pela casa, falou um “oi” ríspido e se foi escada a cima sem me dar chance de responder. Continuei vendo o filme quieta para ver se ele iria dizer algo. Nada disse.

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